O Amor. Esse grande e inconstante amigo. Só o percebe quem o vive; quem o sente chegar, espreitando na esquina deste nosso longo passeio que é a vida. Ainda muito pequenino, mas cheio de fulgor, apressa-se, acalma-se e, num instante, desfaz-se por esse mar de ilusões; mas volta depois e é como que um ser distante: não o conhecemos - mas sabe mesmo bem beber o sumo desse fruto proibido. Arriscamo-nos a mudar o rumo do tal "passeio" mas no fim, amamos e desfrutamos da felicidade que é viver essa magia...
(um excerto de "Descobertas no Vesúvio", de Renée Reggiani:)
"Sentamo-nos na rocha, (...) com as caras voltadas para o céu, como se houvesse sol. (...) O Dudu apanha pedrinhas, atira-as. (...)
- Dudu?
- Eh?
Mas não tenho nada a dizer. Uma maneira de ver se é ele a dizer qualquer coisa. Mas nada. Uma pausa. O mar. Salpicos.
- Porque vens comigo?
Ele disse:
- Porque vens comigo?
Eu. Porque vou eu, quero dizer, venho com ele, Dudu? Foi ele que disse. Eu, Carla. Porque vou, venho com ele. Isto mergulha-me no nada. Isto aniquila-me. Porquê? Foi ele que me convidou. Tenho de responder, de qualquer modo. O quê? Neste momento, não me sinto segura. Sinto-me pateta. Diga o que disser, isto irá de mal a pior.
E, naturalmente, escolho a coisa mais horrível.
- Somos amigos. Parecia-me.
(...)
- Amigos! Amigos!
Ele encolhe os ombros.
Esta maldita ironia! Nada pior que quando um é irónico e o outro não. (...) Fiquei mesmo confusa. Julgava que... Seriamente. Pensava. Estou a parecer idiota. (...)
- Porquê? Por acaso não somos?
Um tempo.
- Quando duas pessoas se sentem bem juntas, de certa maneira.
De certa maneira. o Dudu sublinha:
- É uma coisa diferente. Sem ter necessidade de dizê-la.
Uma coisa diferente.
Uma vaga muito alta desfaz-se com um estrondo, ao mesmo tempo que qualquer coisa se rasga em mim. A vaga volta para o mar e eu fecho-me. Volto para mim mesma. Eu sabia? Não sabia?
(...)
E, todas as vezes, havia o Dudu que substituia a sombra e me respondia:
- Sem ser preciso falar.
(...)"